sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Natal de Stone Halls



Aconteceu em uma pequena cidade do Mato Grosso
No final dos anos oitenta
Circulava pela pequena praça da vila
Uma criança que tinha uma vista atenta.

Na noite anterior, véspera de Natal,
Tinha observado as pessoas em festa
Que passava por ele em meio burburinho
Sem saber que em seu estômago nada resta.

Há poucos dias passados sua mãe tinha ido embora
Deixando que ele pudesse sobreviver
Sem a proteção que só uma mãe pode dar
Em um mundo difícil de crescer.

O pai tinha que trabalhar para sustentá-lo
E com ele não podia, naquele dia, estar.
Enquanto as pessoas festejavam
Para ele não sobrava nem um olhar.

O cheiro suave das carnes sendo assada
Em suas narinas chegavam
Deixando sua fome mais apertada
E uma tristeza que seus pensamentos solapavam.

Não sabia por que passava por aquilo
Pois era uma criança que desejava a felicidade
Que tanto propagavam nesses dias
Mas que, para ele, só existia a saudade.

Com os olhos fundos de tristeza
Olhava para as casas cheias de gente
Sentia-se sozinho naquele universo
E sabia que, para eles, era indiferente.

Em sua cabecinha ficava uma inquirição
Que parecia resposta não ter
Por que falavam tanto em espírito natalino
Se ninguém importava com o seu sofrer?

Poema: Odair

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Poema do meu nome I



Onde nasce uma emoção
Deixo ali meu coração, querida,
Ainda que me entorpeça
Insisto em dar-te minha vida
Razão de sentir essa solidão.

Jamais devo esquecer-te
Onde aprendi a te amar
Sei que te desejo profundamente
E não posso viver sem o teu olhar.

Poema: Odair

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O dia em que morri


Ali estava eu
Deitado imóvel e frio naquele caixão
As mãos cruzadas sobre o peito
Roupas novas e uma linda decoração.

Indivíduos transitavam ao redor do corpo
Falando coisas boas a meu respeito
Outros sorriam zombeteiramente
Porque não me conheceram direito.

Pessoas amadas choravam
Deixando transparecer o sentimento
Lembrando dos belos momentos
Em que, juntos nesta vida, caminharam.

Era uma noite de incertezas
Cercada de choros e canções
Iluminando o que fiz nessa vida
Do sentimento e das emoções.

Quatro braços conduziram
O esquife para o cemitério
Lançaram terra sobre o mesmo
E ali acabou o mistério.

Na madrugada fria de inverno
De choro e rosto tristonho
Vi que não estava no inferno
Pois, tinha acordado do sonho.

Poema: Odair

sábado, 17 de julho de 2010

Homens Medíocres



"Os homens medíocres cumprem um importante papel nos grandes acontecimentos unicamente porque não se encontram lá.”

Talleyrand-Périgord, Charles

Acompanhando durante alguns dias o aglomerado de pessoas a perambular pelas ruas de nossa cidade deparei-me com a necessidade de analisar uma questão que, para mim, é bastante pertinente neste momento: a mediocridade humana.
Já escrevi alguns textos sobre o que penso a esse respeito, no entanto, é salutar expor as minhas idéias a esse acatamento.
São pessoas que vivem dias e noites nos bares e botecos da cidade. Não pensam em trabalhar e, muito menos em estudar. Levam a vida só na farra e na gandaia e não tem expectativas de dias melhores.
Passam pela vida.
Existem, mas não sabem o que é viver.
Reclamam do governo, maldizem os acontecimentos, mas não fazem nada para mudar a situação.
Fiquei indignado com isso até que me veio à resposta. Sim! Eles são importantes! Os homens medíocres são importantes.
Sem eles não teríamos os gênios, os pensadores, os intelectuais. Sem eles ninguém me notaria ou daria importância para o que escrevo.
Então me dirigi até um deles e o abracei. Eles não entenderam nada. Mas como iam entender? São medíocres!

Texto: Odair

domingo, 20 de junho de 2010

O que é apego?



"Se você olhar atentamente você verá que existe apenas uma coisa e somente uma coisa que causa infelicidade. O nome desta coisa é apego. O que é apego? Um estado emocional de aderência causado pela crença de que sem alguma coisa particular ou alguma pessoa você não consegue ser feliz."
-- Anthony de Mello.


Essa frase me chamou a atenção para um detalhe: mesmo que não queiramos, somos dependentes de outros. Seja no serviço, na escola ou no lar, sempre nos apegamos as pessoas. Acontece que, com o passar do tempo nos tornamos dependentes dessa pessoa. Por causa disso existem muitas pessoas que sofrem porque se apegam a pessoas que, muitas das vezes, não importa com a outra.

Existe uma crença, no nosso psicológico, de que, sem aquela pessoa não conseguiremos seguir adiante. O que precisamos mesmo para ser feliz é acreditar que isso é possível, ou seja, podemos sim, viver muito bem sem depender de outros. Essa decisão é um tanto complexa porque exige de nós um certo controle do emocional e isso não é coisa muito fácil de se controlar. No entanto, é fundamental para a caminhada que temos pela frente.

Estava refletindo sobre isso quando me deparei com a frase acima e, como uma luz na escuridão, ela abriu minha mente para essa constatação. Corremos sério risco de sermos esmagados pela tristeza e solidão quando percebemos que estamos sozinhos, ou pelo menos imaginamos isso. Mas a maturidade vem com o tempo. No meu caso, em particular, considero-me como um camaleão, isto é, adaptável a situação.

Caio Prado Jr, ao escrever o livro sobre a Formação do Brasil Contemporâneo ele cita em um dos capítulos do livro sobre o Sentido da Colonização, onde ele explica o sentido de certas mudanças no cotidiano do povo que formou o Brasil. Exemplificando isso, creio que também temos um sentido para determinadas ações e, com o tempo, essas mudanças fazem com que a nossa vida tenha novo sentido. Isso é importante do ponto de vista da adaptação. Preciso me adaptar a essa nova forma de vida. Até aqui minha vida tinha um sentido, agora passa a ter um novo. Estou preparado para esse desafio? Creio que sim, mas a certeza só o tempo dirá...

Texto: Odair

domingo, 7 de março de 2010

Predestinação



Desde criança Henrique tivera a natureza “ruim” como era considerado por quem o conhecia. Fora expulso varias vezes de várias escolas. Brigava todo dia. Dessa forma ele cresceu na pequena cidade do interior. Depois de adulto mudou-se para a capital e começou a se envolver com o crime. Roubos, assaltos, drogas e prostituição. Até chegar no fundo do poço. Foi baleado em um assalto e, no hospital, depois de várias cirurgias, recebeu a noticia de que seus dias estavam contados. Sua morte era iminente.

Bianca era uma garota obediente. Desde criança fora educada nos principios cristãos e educada para uma vida de devoção. Cresceu ouvindo sobre ética e moral e sempre obedecera as doutrinas da igreja onde fazia parte. Muitas vezes deixou de ir em festas porque era considerada errada. Diversas oportunidades de fazer outras coisas ela não aceitava porque eram “incorretas” diante da moral que sempre aprendera a obedecer e viver. Casou com um jovem da igreja e viveu durante um bom tempo dentro dos padrões de conduta religioso e moral. Mas sempre foi tratada com falta de atenção e em segundo plano pelo marido que dava mais atenção a igreja do que a ela. Até que um dia ela foi “seduzida” por um outro homem e caiu na tentação. Dias depois sofreu um acidente e veio a óbito no local.

No hospital, Henrique ouviu um pastor ler a Bíblia para ele e, comovido, aceitou a palavra e se converteu. Dias depois veio a óbito. Cantaram no velório dele. Uma alma que foi salva pela Graça de Deus.

Bianca não pode ser velada na igreja onde sempre pertenceu porque os dogmas da mesma proibia fazer velorio de quem tinha sido excluída da igreja. Nas rodinhas o que mais se comentavam era do “deslize” da menina que sempre obedeceu as doutrinas, mas que não resistiu até o fim e foi levada pelo demônio.

Essas histórias são apenas ilustrações do que é a Predestinação de acordo com a ideologia calvinista e que, boa parte dos cristãos de hoje, seguem objetivamente. Alguns de forma clara e convicta de que é assim mesmo que funciona. Outros nem tão convictos mas que acabam acreditando que é dessa forma. Ou seja, para essas pessoas existem a predestinação. A pessoa já nasce com o destino traçado. Se é para ser salvo pode ser o maior marginal durante toda sua vida que no final vai acontecer alguma coisa e ele se arrepende e é salvo. Mas, se o seu destino é ser condenado, pode viver sua vida inteira santa que no final você vai cometer um pecado que te condenará ao inferno.

Não creio que seja dessa forma. Deus seria muito injusto se tratassem as pessoas como meros brinquedos. Creio sim que Deus sabe, na sua onisciência, tudo que vai acontecer com as pessoas, mas que existe o livre-arbítrio da pessoa e ele pode, sim, decidir pela sua vida. Creio que pessoas boas possam se tornar ruins no fim de sua vida assim como podem continuar sendo boas até o final. Também creio que pessoas ruins podem se regenerar durante a vida e, também, ser ruins até o fim. As oportunidades de serem boas estão patentes a todos.

Na minha compreensão as histórias acima podem ser melhor ilustrada na viagem de um navio. Vamos imaginar que Bianca entrou no navio no porto de origem rumo ao destino final. No meio do trajeto, no entanto, ela pula do navio e morre afogada. Henrique, por outro lado, nadava desesperadamente no mar até entrar no navio na última hora. O destino quis que fosse assim.

Dessa forma, finalizo minhas considerações afirmando que não creio ser dessa forma. Se assim fosse, seria muito injusto entrar na vida já com o destino traçado sem ter a chance de lutar pelo que queremos.

Texto: Odair

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Escrevo porque...


Escrevo porque gosto.
A escrita me ajuda a libertar a imaginação ao mesmo tempo em que a registra para a imortalidade. Vou passar e, como acontece com todos, sem exceção, vou morrer... No entanto, meus pensamentos serão imortalizados para todo o sempre.

Alguém há de encontrar em minhas palavras o alento e cumplicidade que sempre procurou. Todos temos vários sonhos e imaginamos as situações, a vida que nos agrada, mas nem sempre é possível ter essa vida ou realizar aquele sonho.

A vida passa, nós passamos, e o que a nossa posteridade encontrará de nós?
Escrevo porque adoro ver as palavras serem construídas ao longo das linhas de um papel branco. Mas, não é só isso que importa. Também importa as idéias.

Escrevo porque posso registrar as minhas idéias e deixá-las livres, como pássaros, encontrar outras idéias e, juntas, formarem uma ideologia.

Gosto de ler, talvez seja por isso que gosto de escrever, ou vice-versa. E, por ler muito, sei que deveria escrever na norma culta. No entanto, gosto de ser livre na minha escrita por achar que assim consigo ser mais objetivo no que quero dizer.

Escrevo porque a escrita me impulsiona a desvendar outros horizontes. Histórias são elaboradas a partir de idéias; críticas são liberadas a partir de pontos de vistas e poemas são criados a partir de sonhos.

Tive uma experiência como professor de Língua Portuguesa durante três meses em uma escola de Alfabetização de Jovens e Adultos que me possibilitou a oportunidade de perceber o valor da escrita. É patente aos olhos a dificuldade que as pessoas têm em escrever. Por isso vemos um alto índice de reprovação nas redações e interpretações de textos. Na verdade, esses dois parecem monstros para boa parte de nossos alunos. Estamos vivendo uma época de muita informação e pouco conhecimento.

Escrevo porque aprendi, nos momentos de reflexão, a expor os meus sentimentos. A escrita liberta o sentimento do coração, da alma e o aprisiona no papel para todo o sempre.

Escrevo porque assim posso deixar para a posteridade os meus sentimentos, as minhas idéias e incertezas. Pode parecer loucura, bobeira ou mesmo, infantilidade, mas sei que, mesmo com o passar do tempo, alguém de mim se lembrará.

A escrita é minha identidade.

Texto: Odair

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Onde Estão Meus Amigos?


O tempo passa de forma fugaz
E, com ele, vai-se a felicidade
De dias cheios de emoção
Que nos deixam muita saudade.

Amizades construida com muita luta
Acabam no esquecimento da correria
Que os tempos modernos nos conduz
Sem nos deixar alegria.

Sonhos de longas horas de conversa
Compartilhada com amigos íntimos
Ficam gravados nas lembranças
De tudo maravilhoso que sentimos.

Onde estão meus amigos
Que construi uma amizade
Ao longo dos anos de vida
Mas, que não fazem parte dessa realidade?

Onde estão aqueles que ouviam
As histórias que eu contava
Que acreditavam no sonho
Que eu sempre acalentava?

Onde estão aqueles olhos
Que viam a minha imaginação
Que sabia de minhas dores
E alegravam meu coração?

Continuo a minha caminhada
Mas não contemplo esses amigos
Que sempre me ajudaram
A escapar dos perigos.

Tenho a esperança toda manhã
De, em alguma esquina encontrar
Amigos de verdade
Que possa me acompanhar.

Poema: Odair